ANÁLISE: UFC 135 - Jones VS Jackson
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ANÁLISE: UFC 135 - Jones VS Jackson



Minhas zapeadas constantes no Rock in Rio durante a transmissão desse UFC 135 mostra que alguma coisa saiu muito errada. Vários tiros saindo por várias culatras. Card com Jones, Rampage, Gomi, Diaz, Hughes e Koscheck não render uma noite explosiva de lutas é como toneladas de dinamite sem detonador. Talvez o excesso de combates entre jovens atletas de ponta e estrelas em fim de carreira tenha sido a razão. A vitória de Ortiz sobre Bader foi emocionante simplesmente porque essas coisas não costumam acontecer, e sem contrariar nenhuma estatística, não aconteceram nesse UFC. Um evento estéril muito mais marcado pela apatia dos derrotados do que mérito dos vencedores.

Jon Jones VS Quinton Jackson

Quinton vinha de 10 vitórias em suas últimas 12 lutas. Em 6 anos apenas uma derrota controversa para Griffin e uma por pontos para Rashad e pronto. Rampage era um desafiante genuíno e bem credenciado ao título dos meio pesados. Para traçarmos uma linha comparativa, nos últimos 6 anos Wanderlei Silva perdeu 7 lutas. O que aconteceu com Jackson nesse UFC 135 é o que ainda vai acontecer com muitos atletas. Sucumbiu aos pés da aura de invencibilidade de Jon Jones. Perdeu a luta mesmo antes de entrar no octagon. Começou o round mais preocupado em não perder rápido e ser humilhado, do que partir para dentro e executar a estratégia e tentar ganhar.

Quinton declarou que Jon Jones não tem queixo, que tem medo de ser atingido no rosto. Que iria se meter por entre os socos do campeão até achá-lo e nocauteá-lo. Exaltou sua resistência, seu queixo, sua coragem de aceitar golpes para desferir um fatal, falou de seus momentos no Pride e o que separa os campeões eternos dos eventuais. Quase Don Quixote. No embate contra moinhos de vento saiu vencedor, mas na hora da luta nada disso aconteceu. Esteve apático, pequeno, obsoleto, tentando cruzados curtos sem o menor indício de sucesso e aceitando chutes na perna sem o menor esboço de defesa. Petrificou diante da medusa. Paralisou na luta porque parou no tempo. Seus cruzados funcionam com lutadores curtos que lutam por dentro, e funcionou tantas vezes, mas a chance de funcionar contra o segundo maior alcance do UFC era remota. Quando começamos a nos apoiar demais em improbabilidades e sortes para validar uma tática, é porque o objeto está longe do alcance racional. Quinton não tinha armas físicas ou técnicas para vencer Jones sem auxílio do acaso.

Chega um momento na carreira de um veterano que ele para de evoluir. Ele para de ser tornar cada vez mais perigoso porque para de aprender. Rampage, Wanderlei, Couture, Liddell, Hughes, Ortiz pararam de melhorar para apenas lutar. Apenas aparecer no octagon. Espertos aqueles que já se aposentaram antes de se machucar realmente. Como preparar uma estratégia contra Phil Davis, Rashad, Cerrone, Ben Henderson, Jones, se eles estão sempre se afiando, sempre em movimento? Dando passos além, sejam físicos, técnicos ou táticos. O mesmo não vale para a maioria dos veteranos. Basta pegar uma fita VHS surrada, colada com esparadrapo, que podemos montar uma estratégia para vencer Quinton Jackson sem surpresas. E foi isso que Jon Jones fez. Assistiu a todas as lutas do ex campeão, apesar de que poderia ter assistido apenas uma ou duas que daria no mesmo, e montou um plano de ataque sem falhas para uma luta aonde venceria mesmo sem plano nenhum.

Verdade que Jackson foi o que chegou mais perto de vencer o atual campeão e superstar Jones com uma chave de carisma no dia da pesagem. Conseguiu o impossível, fazer um dos lutadores mais queridos do planeta ser vaiado enquanto ele, o desafiante, saiu aplaudido. De foragido da polícia, quase mal caráter no TUF, desinteressado em continuar competindo em MMA para ser artista de cinema, até dar a volta por cima, disputar o cinturão e ser aclamado pelo público como herói. Coisa que só uma lenda do Pride poderia nos proporcionar. Mas foi só isso. Como tempos atrás Jackson conseguiu seu status de imortal dentro dos ringues e octagons, o mesmo vale até hoje. È lá que ouvimos o discurso que não precisa ser dito, a verdadeira história contada pelas luvas, no terreno aonde nasce o para sempre. E lá Jones vem construindo seu império com ossos e almas dos derrotados.

Jon Jones venceu sem dificuldade, quase como se não quisesse realmente machucar seu oponente e ex ídolo juvenil. Dominou completamente lutando pela metade, como vem sempre fazendo e parece que vai continuar durante muito tempo. É da beleza do MMA revigorarmos nossos interesses depois de uns dias e sempre acharmos que um novo desafiante, uma revanche, pode trazer mais emoção, algo de diferente. Faz parte do ciclo de adrenalina e expectativas que nos abastece, mas friamente, sob olhar clínico, cínico e sem paixão, ninguém no meio pesado pode oferecer algum perigo a Jones. E do mesmo modo que isso é incrível de presenciar, pode acabar se tornando bem chato.

Jones pode iluminar o caminho para uma nova era do MMA, ou ser o buraco negro que só destrói atleta após atleta até que nada sobre, nem emoção. Se liberar seu estilo, se entrar no modo turbo, se quiser ser incrível mais do que apenas vencedor, pode figurar entre os maiores de todos os tempos rapidamente. Mas se pensar como GSP, em se manter campeão destilando doses homeopáticas e precisas de técnica apenas quando necessário, vai se tornar imbatível e irrelevante. Caso opte por usar sua superioridade técnica e física para dominar sem emoção e vencer sem paixão, vai ser mais um daqueles campeões que não motiva. O cinturão vai estar com ele, vai ficar milionário e ter várias mulheres. Não nos enganemos, um possível desprezo não afetará nada disso. Mas no fundo de sua alma vai estar um buraquinho, um vazio, uma sensação perene de desconforto. A presença da ausência de nossos aplausos.

A carreira de Jones só começou e já achamos que ele tem que fazer mais do que apenas desmantelar Shogun e vencer com facilidade Jackson. Fazer o que? Culpa dele que nos mostrou traços de genialidade e fantástico e nos acostumou mal. Bones pode ser um lutador incrível de assistir, ídolo de nações inteiras, estrelar nossa new age, mudar a capa do livro do MMA, ou pode continuar sendo o que parece preferir, respeitado e temido, mas muito pouco querido.

Matt Hughes VS Josh Koscheck

Koscheck é top 10 do meio médio e Hughes é um veterano em fim de carreira que não figura nem no TOP 12. O casamento dessa luta não só foi desnecessário como foi desrespeitoso. Qualquer análise breve do cartel recente dos dois mostrava que era um estorvo e deveria ter sido evitada.

Após a derrota para Thiago Alves em 2008, Matt já dava claros sinais de queda física, performance, competitividade e anunciou que deveria se aposentar. Não via mais motivo para competir não fosse para figurar entre os melhores. Apenas uma luta conseguiu mudar sua idéia, uma suposta última luta contra o pseudo arqui-rival Matt Serra. A possibilidade de vingança colocou fogo em seus olhos novamente. Os dois se arranharam numa luta monótona e sem brilho onde venceu um Serra gordinho e desmotivado em 3 rounds de trocação de baixíssima qualidade. Revigorado pela vitória e com sonho de reconquistar o querido cinturão que repousou com méritos em sua cintura por tantos anos, resolveu voltar a ativa. Venceu Renzo que pode ser mestre em jiu-jitsu, mas atleta de MMA não era mais, e Cachorrão num resultado tão surpreendente que deveria tê-lo feito negar a revanche contra Penn. Quem é azarão contra Cachorrão vai ser pulverizado pelo fenômeno BJ. Quem acha que não, pagará o preço pela ignorância com células nervosas e Matt pagou. Ao colidir com o primeiro lutador realmente de ponta nos últimos 2 anos acabou pulverizado. Sorte que não estava ventando em Michigan ou nem as cinzas do ex campeão iam sobrar para colocar no jarro. A aposentadoria merecida foi soterrada pelo casamento de mais uma luta, dessa vez conta Koscheck (antes era Diego Sanchez), simplesmente veloz demais, forte demais, resistente demais atualmente para ter alguma chance de sair sem o machucar.

Matt que tem o coração maior que o queixo e que o bom senso entrou para definir e acabou nocauteado sem dificuldades. Não tivesse abençoado pelo excesso de respeito do adversário, teria dormido antes. Acabou com a cara no chão e a bunda pra cima. Um lutador lendário que já superou tantas adversidades e venceu tantos grandes atletas, merece lutar mais uma, mais uma, mais uma e mais quantas vezes achar de deve. É problema dele. Mas quem admira o esporte não acha agradável ver esse nível de derrota. Espatifado, tirado pra nada. Matt foi um dos maiores e, por respeito a si próprio, deveria parar ou aceitar lutas mais equivalentes apenas contra veteranos. Uma revanche contra Royce é uma idéia que me agrada. O que não me faz a cabeça é a organização do UFC canibalizar estrelas antigas para alimentar as jovens.

Koscheck venceu, mas não provou nada. Teve até mais dificuldades do que deveria. Deixou claro que o rombo em sua guarda que GSP expôs com jabs e cruzados de esquerda ainda está ali para quem quiser usar. Um buraco incorrigível, um abismo técnico que nunca vai conseguir atravessar para disputar o cinturão novamente. Não é vencendo um veterano em decadência que vai prosseguir na carreira. Deveria ter seguido o exemplo de Rashad Evans quando negou a luta que lhe foi oferecida contra Randy Couture: ?não tenho coragem de bater num homem de 40 e poucos anos e depois dizer que quero disputar o cinturão?.

Nate Diaz VS Takanori Gomi

É de se lamentar que Gomi não tenha se provado contra as estrelas do UFC quando estava em seu auge, quando era um dos lutadores vai vorazes e violentos do planeta, freqüentador assíduo dos TOPs P4P e estrela de alguns dos maiores combates já testemunhados no esporte. Gomi contra Kawajiri, Pulver, Azeredo, Nick Diaz e Sakurai são inesquecíveis. Contribuição eterna e incandescente do fireball kid para o hall da memória que cada um de nós guarda dentro de si. Momentos que ajudaram a construir e ajudam a manter esse esporte. Quando presenciamos Browne, Struve e outros no octagon, é a lembrança de momentos como os de Gomi que nos faz tolerar e sempre acreditar que coisas melhores virão.

Gomi era invulnerável, feito de alguma liga impenetrável vinda lá da ásia, não sentia dor, não se machucava por mais que fosse atingido. Não caía, quase não bambeava, partia pra cima e trucidava. Durante alguns anos nenhuma estrela ofuscava o brilho da sua. Uma presença que causava temor e expectativa. Foi tanto em tão pouco tempo e depois não foi mais. Acendeu e apagou em segundos. Um dos maiores por apenas uma fagulha de tempo.

O Gomi que finalmente chegou ao UFC anos atrás já estava desativado. Não me perguntem porque. Lutava igual, partia para definir igual, tinha o mesmo coração, mas alguma coisa não estava lá. O sangue havia estancado. Fora um brilhareco contra Tyson Griffin, suas performances eram melancólicas e culminaram com um fiasco nas mãos de Nate Diaz.

O sonho de ver uma versão vintage de Gomi não poderia ter melhor condutor do que Diaz. Um lutador sem poder de nocaute, franzino, prepotente na trocação e ávido por sempre testar se o oponente agüenta mais porrada que ele. Grama seca perfeita para Gomi incinerar e voltar ao lugar que achamos ser seu por direito. Mas o que vimos foi o japonês sem precisão, sem resistência, tentando derrubar um Diaz que bateu como quis, derrubou com jab e fez parecer fácil. Takanori fez demais pelo MMA, mas acabou. It?s over. Antes eu torcia por uma luta entre ele e Melvin Gullard, mas essa performance me fez ficar contente de nunca ter acontecido ou no UFC 135 poderia estar assistindo do Japão, de cadeira de rodas.

Nate continua irregular. Capaz de fazer uma luta parelha contra o poderoso Gray Maynard, ser manipulado tipo massa de bolo pelo inexperiente Rory MacDonald e superar Gomi no boxe. A falta de padrão em suas lutas é o que o mantém sempre distante do topo. Um lutador emocionante, querido e odiado na mesma medida, capaz de vencer os melhores e ser derrotado por qualquer outro. Trabalho não faltará para Nate que sempre aparece e faz o melhor que pode, mas seu melhor nem sempre é proporcional a expectativa que gera. Sua cabeça de vento e displicência com tática e treinamento sempre vão mantê-lo longe do tão sonhado cinturão. Se é que ele sonha com isso.

Mark Hunt VS Ben Rothwell e Travis Browne VS Rob Broughton

Duas lutas que juntas não valem por uma, tão ruins e desprezíveis da mesma maneira que não poderia ser misericordioso ao mencionar só a outra. Nem teria porque escrever sobre apenas um se o texto valeria para os dois. Gêmeos siameses, deformados, uma versão distorcida e errada do que amamos. Um erro por parte da organização e ainda maior da minha que assisti até o final.

MMA não é mais vale tudo e nunca foi briga de bar. A diferença de um esporte de ponta e de uma competição é o esporte é praticado por atletas profissionais. E não há atleta que leve sua carreira e os fãs a sério e carregue 50Kg de barriga. Pode ser guerreiro, brigador, orgulhar a mãe e o bairro onde nasceu, mas não é atleta. Vimos 4 transeuntes do esporte, 4 obesos se esfregando durante um total de meia hora apenas por grana. Sem paixão por MMA, sem ambição, sem técnica. Qualquer faixa azul de jiu-jitsu, qualquer menino que treine wrestling ou boxe durante 1 ano faz melhor do que eles. Habilidades mal passadas, falta de resistência, apatia, incapacidade de finalizar o combate. Conterrâneo e Mondragon fariam frente a qualquer um desses e Lula Molusco já despontaria como franco favorito.

Salvo alguns caroços de técnica de trocação que sobraram na panela de Hunt, nada mais havia para saborear. Poderiam ir todos juntos com Roy Nelson para aqueles programas de emagrecimento. O primeiro que descesse para meio pesado ganhava um contrato de volta. E os outros, talvez a dignidade.

Dois dos piores momentos da história do MMA, no mesmo dia, seguidos. Um caminho de Santiago de Compostela sem garrafa de água, a trilha de Machu Picchu sem parar para pegar ar, a escadaria da Penha de joelhos. Quem assistiu até o final, de ponta a ponta, pode tanto se considerar realmente fã como aceitar sofrer de certo masoquismo.



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