ANÁLISE - UFC 121: Velasquez VS Lesnar
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ANÁLISE - UFC 121: Velasquez VS Lesnar



Esse UFC 121 foi mais relevante do que bom. Conceitos foram alterados e certezas balançadas no evento que com certeza não foi o mais divertido, mas sai na frente na corrida pelo posto de mais importante do ano. A maioria das lutas compensou a falta de emoção com excesso de disposição por parte de todos os lutadores. Um evento de tração, pesado e intrigante. Se bons WEC são como fórmula 1, esse UFC foi um Rally.

Cain Velasquez VS Brock Lesnar

Alguma coisa vai acontecer, os índios apaches diriam. Acostumados a medir mudanças climáticas através do vento, da terra, antecipariam facilmente a furacão que se aproxima apenas pela movimentação selvagem e perigosa das nuvens escuras no horizonte. A relva levanta, as árvores balançam, um raio brilha, o trovão estoura e a tempestade do século se forma para anunciar a chegada da era de Cain. Sua destruição de Brock Lesnar entra para a história das lutas como um dia entraram outras que apontavam para um atleta que mudaria a história, para um lutador que entortaria o esporte da maneira que quisesse, colocaria o MMA a seus pés e se sagraria um dos maiores de todos os tempos. A colisão entre Wanderlei e Henderson no PRIDE 12, o espancamento que Fedor impôs a Minotauro no PRIDE 25, o nocaute de Randy Couture sobre Chuck Liddel no UFC 43, a vitória de Sakuraba sobre Royce Gracie numa luta sem limite de tempo no inesquecível PRIDE GP 2000 e poucas outras que agora são acompanhadas, sem vergonha, sem demérito, sem média ou frescutas, pela obliteração de Brock nas mãos de Cain Velasquez.

Brock Lesnar é uma criatura. Num mundo sem armas de fogo, Brock dominaria facilmente o continente com uma marreta na mão. Veloz, arisco, pesado, forte e resistente. Lesnar é um perigo para qualquer atleta justamente por não ser humano, por superar deficiências técnicas com uma brutalidade e velocidade que não deveriam pertencer a uma criatura nascida na Terra. Para haver um Brock Lesnar, 10 homens nasceram raquíticos em algum lugar do planeta. Simplesmente faltou muito material para alguns para sobrar tanto em Lesnar. Para os mais afoitos, Brock era imbatível. Fora uma finalização que ele desconhecesse, como haveria de se parar, com as mãos apenas, um atleta desse porte e com essas características? Cain Velasquez desmantelou esse inumano. Não numa questão de técnica superando força bruta, apesar de que houve muita técnica para driblar as mãos de bola de boliche de Lesnar ou sair debaixo do ground and Pound mais temido da atualidade. Mas foi um espancamento. Lesnar, simplesmente, não tinha como vencer Cain. E ele percebeu isso antes de todos nós. Ele tem coração de campeão, aceita o impacto, vai para a luta, não esmorece. Mas sabia que estava além de sua capacidade. O grande lutador não é aquele que se acha imbatível sendo ignorante para as qualidades do adversário, é aquele que não foge a luta, que dá a cara a tapa.

Se Brock quiser ser relevante do esporte daqui a uns 10 anos e não apenas um tsunami que destrói umas casas, mas não faz vítimas fatais, tem que aprender a fazer alguma coisa diferente de cobrir o rosto e se jogar no chão quando está em perigo. Uma nova luta com Mir está se desenhando. Vão alimentar o monstro. Mas o mundo do MMA, para ele, não poderá se resumir em dilacerar Mir na frente das câmeras mais uma vez. Brock pode se tornar um dos maiores se aprender os detalhes do esporte, mas estando rico e com 33/34 anos, não sei se ele quer ou acha que precisa.


Velasquez joga outro jogo. Encontrou os atalhos dentro do combate, resumiu o MMA, diminuiu a distância entre os pontos. Enquanto Shane Carwin tenta quebrar o muro, Cain encontra a rachadura, enquanto Minotauro se força a lutar a estratégia errada, Cain não tem vergonha de escolher a certa, enquanto o coração de Mir vira uma ervilha o de Cain explode, enquanto Brock só quer bater, Cain não tem medo de apanhar, enquanto Fedor luta desconcentrado contra Werdum, Cain não perde o foco nem em comercial de burrito. Velasquez é o futuro do peso pesado. Hoje em dia será mais temido, mas em alguns anos, apenas admirado. Grandes lutadores trilham caminhos secretos, especiais, lendas, criam seu próprio caminho. Cain Velasques vai trilhar a rota que ele quiser.

Cain vai defender o cinturão contra o brasileiro Júnior Cigano. Marco aqui minha expectativa com silêncio.

Jake Shields VS Martin Kampmann

O MMA tem algumas estrelas fora do UFC, e Shields é uma delas. Com vitórias sobre Yushin Okami, Carlos Condit, Dan Henderson, Jason Miller, Robbie Lawler, Paul Daley e Sakurai, Jake está sedimentado no top 10 do peso médio faz alguns anos. Por uma questão de marketing Dana White o convenceu a estrear no UFC no peso meio médio, antevendo um adversário digno ao trono de St. Perre. O erro de Shields foi ter concordado. No peso médio não perde uma luta desde 2005. Seria um adversário lógico para Anderson Silva, mas com Okami, Marquardt, Belfort e Sonnen com o ticket numerado para pegar o brasileiro antes dele, resolveram colocá-lo no peso de baixo aonde faltam novos desafiantes. Comercialmente, a lógica é boa, mas na prática vimos que não deu muito certo.

Shields estava lento, fraco. Lutadores de peso médio costumam ter de 93Kg pra cima no seu dia a dia. Estão acostumados com um certo nível de corte. Mas descer para o peso meio médio drenou as forças de Shields. Um atleta conhecido pelo vigor e gás, cansou antes do final do primeiro round. Para ele lutar nesse peso com um bom preparo vai ter que alterar seu peso natural para baixo. Se antes tinha 93kg e descia, agora vai ter que ter, naturalmente 85kg. Não é uma mudança fácil e envolve reeducação alimentar, anteração de ciclos de treino e suplementação. A questão é se ele vai conseguir sintonizar seu corpo para uma outra freqüência depois de 10 anos. Jake Shields, pelo que fez na carreira, é um dos maiores do mundo, merece disputar o cinturão mesmo que seja questionado por aqueles que não sabem da existência de forma de vida inteligente fora do UFC. Mas o Jake Shields que lutou nesse UFC 121 não merece nem ser considerado como desafiante. Ou ele acerta sua preparação ou vai ser mais um desmantelado, aos poucos e sem emoção, pelo campeão canadense.

Martin Kampmann é um esforçado. Quem o viu no começo da carreira quando só sabia trocar e vê agora um lutador completo que é perigoso em qualquer aspecto do esporte, entende porque MMA é apaixonante. È uma constante metamorfose, uma constante adição de informação a habilidades. Mas, mesmo assim, Kampmann não está entre os melhores. Não estivesse no UFC, não haveria manifestações na porta da casa de Dana White para ele ser contratado. Ele tem 3 derrotas nas últimas 7 lutas e uma delas foi o nocaute seco pelas mãos de dinamite de Paul Daley. Kampmann vai continuar no UFC dando trabalho a todos que entrarem no octagon com ele, mas não conseguirá ser a pedra no caminho de nenhum grande lutador.

Diego Sanches e Paulo Thiago

Uma das lutas do UFC mais WEC style de todos os tempos também foi a melhor da noite. Em 3 minutos velozes e furiosos testemunhamos o renascimento de Diego Sanches às custas do contrato de Paulo Thiago com o UFC, provavelmente. Aquele Diego, apelidado com precisão de nightmare (pesadelo) se manifestou pela primeira vez em anos. Quedas, briga incansável pelas posições no solo, ground and Pound incansável e muita raça. Os dois lutadores vinham com um dilema para essa luta. Os dois vindo de momentos irregulares na carreira e precisando mostrar que ainda são predadores do topo da cadeia alimentar. Mais do que a vitória, Diego renasceu como um grande lutador. Já Thiago, que se divide entre trabalhar como policial e treinar nas horas vagas, sucumbiu frente a um atleta em tempo integral. Coração é o ingrediente que todo campeão tem, mas é o ingrediente secreto que se mistura com tantos outros. Ele , por si só, não serve de muita coisa. Thiago tem que decidir que carreira quer tomar, abraçar uma paixão e abandonar a outra. É assim mesmo, coisas da vida. Ou vai continuar sendo um lutador duro, valoroso, mas não terá lugar entre os melhores do peso. E, quem sabe, nem no UFC.

Matt Hamill VS Tito Ortiz

Uma luta irrelevante entre um Matt Hamill mediano e um Tito Ortiz acabado. Quando no crescente mercado de MMA, com patrocínios robustos querendo estampar suas marcas em qualquer lutador do UFC, vemos um entrar com a bermuda sem nenhum anunciante, apenas com o endereço de sua própria marca, tem alguma coisa errada. Tito já apanhou tanto na carreira que leva um soco na direita e sangra na esquerda. Não é um homem velho, mas está velho para esse esporte. Cansou. Não defende quedas nem tenta aplicá-las. Tomando como base os vários chutes amadores que lançou durante a luta, creio que esteja assistindo mais competições de tae kwon do e K-1 do que o prórpio esporte que um dia praticou. E Hamill, um grande lutador do ponto de vista do exemplo de superação de deficiências e perseverança fez aquela típica luta que sempre faz. Bate, apanha, tenta não perder e, eventualmente, acaba ganhando. Uma luta desnecessária que só serviu para mostrar que, hoje em dia, Tito é melhor narrador de MMA do que lutador. E Matt, fez o dele, mas o que ele faz não é de grande qualidade. Dois atletas que não vão fazer a luta principal de nenhum evento durante um bom tempo. Talvez, pela eternidade.

Brendan Schaub e Gabriel Napão

Que Schaub e Napão acham que são bons de boxe, é visível. Mas Schaub só sabe fazer isso mesmo. È um híbrido, como ele mesmo se chama, mistura pouco de tudo. Um especialista em generalidades. Mas Napão é um faixa preta de jiu-jitsu. Mais um do pelotão dos bons lutadores de jiu-jitsu que se tornaram limitados trocadores em MMA. Qual o estilo do Napão? Hoje ele é um trocador, um brigador, como é Ben Rothwell e Travis Browne. Quando um faixa preta vira um boxer de baixa qualidade, tem alguma coisa errada demais em algum lugar. Vitória de Schaub que sabia um pouquinho mais, só um pouquinho mesmo, do que estava tentando fazer.

TWITTER: @nicoanfarri



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