A Ciência das Artes Marciais: Ricardo Arona
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A Ciência das Artes Marciais: Ricardo Arona





Todos os lutadores possuem recursos técnicos que os distinguem dentre outros competidores. Ricardo Arona, além de seu repertório de projeções, possui o chute baixo com a parte anterior da perna - "Canelada" - como arma imprescindível em seu repertório.

Até aí tudo normal, pois outros lutadores de MMA também costumam utilizar esse golpe. No entanto, diferente de outros atletas, quando dispara sua canelada no tempo certo, o adversário literalmente desaba. Até poderia ser de dor, mas geralmente é pelo desequilíbrio. O fato é que não é comum no MMA derrubar o adversário somente com um chute (a não ser nocauteado, vide Mirko "Cro Cop").

No vídeo abaixo contra Alistair Overeem, aproximadamente aos 4min15s de luta é um exemplo clássico.








Outro exemplo referencial, foi na sua primeira luta contra o ex-rival e ex-desafeto Wanderlei Silva (confira no vídeo abaixo).






O que ocorre e como ele consegue esse feito? A ciência explica. Para facilitar, primeiro assistam o vídeo logo abaixo, no qual consta a base de nossa explicação que virá logo após.






O golpe no vídeo é denominado no Savate (Boxe Francês) de fouetté bas ("Back Leg Sweep" em Inglês). Traduzindo para o Português, seria algo como "vassourada" ou "varredura". Os princípios da física para esse golpe e na forma que Arona executa são bem parecidos. Contudo, tecnicamente ele eleva a condição desse tradicional golpe do Savate para outro patamar em função de sua condição física.

No savate o atleta domina um dos braços do adversário e, em seguida, desfere o chute que atinge suas duas pernas e o derruba. Arona faz o mesmo só que sem segurar o adversário e atingindo apenas uma das pernas do oponente para derrubá-lo.

Como citado, o princípio baseado na física é similar, ou seja, deslocar o centro de gravidade de sua base. Vale ressaltar que, no corpo humano, é praticamente impossível localizar com exatidão o centro de gravidade, porque ele é deslocado conforme o atleta muda sua posição corporal.

Entretanto, em modalidades de combate, aparentemente, no momento inicial de um combate (atleta em pé, com cotovelos estendidos ao longo do corpo), dependendo do tipo físico do atleta, o centro de gravidade pode ser localizado na região da cicatriz umbilical (?umbigo?) ou ligeiramente acima dele. Nas mulheres, abaixo da cicatriz umbilical, mais próximo dos quadris (a posição precisa do centro de gravidade depende das proporções do indivíduo e tem a magnitude igual ao seu peso).



Centro de Gravidade (C.G) na posição anatômica

Nesse contexto, tecnicamente, seria mais fácil derrubar Overeem que Wanderlei. Lutadores de baixa estatura mantêm seus centros de gravidade perto de suas bases de sustentação (membros inferiores), favorecendo o equilíbrio. Overeem mede 1,95 enquanto Wanderlei mede 1,80 metro.




Resolvida a primeira parte sobre equilíbrio e desequilíbrio vamos para o cerne da questão: como Arona consegue derrubar sem ter a necessidade de dominar tanto o oponente como na técnica aplicada no Savate?

Pelo fato de aplicar velocidade na técnica, mas com quantidade de força no chute bem superior à necessária no Savate, conseguindo deslocar "na marra" o centro de gravidade das bases do adversário. Vale relembrar que Força = massa x aceleração e Aceleração = Velocidade/Tempo. Assim, com sua grande aceleração empregada dificulta o bloqueio do adversário ao golpe e, com a força gerada, desloca-o de suas bases de sustentação simultaneamente. Desse modo, podemos afirmar que, além de forte, Arona também é extremamente potente, afinal: Potência = Força x Velocidade.

Se não contasse com sua notável condição física e tivesse de dominar um dos braços do adversário executando da mesma forma que a técnica é empregada no Savate, pode ser que não surtisse o desequilíbrio por dois motivos:

1) Daria tempo para o adversário interpretar a técnica, conseguindo bloquear o chute

ou

2) A dinâmica no MMA é diferente do Savate, oferecendo possibilidade técnica de clinche e prosseguimento da luta, gerando ineficácia da técnica ao encurtar a distância.

Leandro Paiva




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