Treinamento Desportivo aplicado ao Jiu-Jitsu
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Treinamento Desportivo aplicado ao Jiu-Jitsu


Ricardo Arona.

Um artigo recente escrito pelo amigo Leonardo Andreato joga luz aos avanços conquistados na ciência das artes marciais. Nele, versa sobre diversos estudos ampliando a possibilidade de conhecimento e entendimento sobre como prescrever o treinamento físico e técnico para atletas de Jiu-Jítsu com bases científicas atuais. Adiante segue os principais trechos.


Leandro Paiva




BASES PARA PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO DESPORTIVO APLICADO AO BRAZILIAN JIU-JITSU

Autor: Leonardo Vidal Andreato



Resumo

Nos dias atuais o condicionamento físico vem se tornando cada vez mais importante, tornando-se fator determinante para se alcançar o triunfo nos esportes que exigem das aptidões físicas, em alguns casos superando o talento. Contudo, a sistematização da preparação física deve ser realizada respeitando teorias gerais do treinamento desportivo e principalmente as especificidades da modalidade.

Neste sentido, o Brazilian Jiu-Jitsu é um esporte que vem crescendo muito nos últimos anos, principalmente em seu caráter esportivo, porém a evolução literária acerca da modalidade não segue a mesma proporção. Desta forma, o objetivo deste estudo foi por meio bibliográfico, explanar algumas das bases para a prescrição do treinamento desportivo aplicado ao Brazilian Jiu-jitsu.

FREQUÊNCIA CARDÍACA APLICADA AO JIU-JITSU

A freqüência cardíaca (FC) pode ser um indicativo da intensidade do esporte e indicativo da predominância de sistema fornecedor de energia (POWERS; HOWLEY, 2000; WILMORE; COSTIL,2001). Em estudo com lutadores de BJJ (n=7) onde estes realizaram lutas entre 7 e 10 minutos, obtive-se os seguintes valores: a FC pré-luta de 72,2 ± 9,2 batimentos por minuto (bpm), e FC média de 181,7 ± 5,9 bpm; FC máxima (FCmáx) de 195,0 ± 7,1 bpm. Concluí-se com este estudo que a FC tende aumentar de forma não linear (DEL VECCHIO et al., 2007).

Franchini et al. (2003) em estudo com praticantes deBrazilian Jiu-Jitsu (n=22) relatam quem em uma luta de 5 minutos a maior FC é apresentada no último minuto, embora o seu aumento não ocorra de forma linear.

O aumento da FC de forma não linear pode estar relacionado ao fato que ocorre predominância de pontuação até o terceiro minuto da luta, quando os atletas ainda apresentam níveis inferiores de fadiga neuromuscular; no entanto, em algumas situações, as pontuações acontecem com maior intensidade no final do combate, denotando que os atletas mais bem condicionados tendem a deixar a luta correr para, então, esforçarem-se após o quinto minuto de luta (DEL VECCHIO et al., 2007).

FORÇA MUSCULAR APLICADA AO JIU-JITSU

Força é uma grandeza física expressa pela massa versus aceleração, no treinamento físico é mais correto o uso da expressão força muscular (BARBANTI, 2001) que pode ser entendida como a força máxima que pode ser gerada por um músculo ou por um grupo muscular (POWERS; HOWLEY, 2000).

Em praticantes de jiu-jitsu é de fundamental importância um bom desenvolvimento da força, principalmente a de membros superiores através de contrações isométricas por sua utilização, devido à técnica ser em geral de extremo contato e não proporcionar espaços para movimentos dinâmicos (MOREIRA et al., 2003). Del Vecchio et al. (2007) indicam que os atletas de Brazilian Jiu-Jitsu necessitam de alta força isométrica.

Franchini et al., (2003) em pesquisa realizada com atletas de Brazilian Jiu-Jitsu (n=22) em simulações de luta de duração de 5 min, relatam que os atletas desta modalidade não possuem elevada força de preensão manual, 54,2 ± 6,7 kgf na mão direita e 51,4 ± 6,1 kgf na mão esquerda, porém, conseguem mantê-la sem grandes alterações no decorrer de uma luta de 5 minutos, 84,4 ± 7,7 % da força de preensão máxima no quinto minuto de luta.

Entre tanto na coleta dos dados havia interrupções a cada minuto, fato este que pode influenciar na manutenção da força, tendo os atletas pausas breve, nas quais podiam recuperar-se.

Em mesmo teste de dinamometria de preensão manual judocas da seleção brasileira apresentaram 49,5 ± 12,8 kgf na mão direita e 47,2 ± 12, 4 kgf na mão esquerda (FRANCHINI et al., 1997), enquanto judocas belgas de alto nível apresentaram 64, 9 ± 8,9 kgf na mão direita e 59,7 ± 8,8 kgf na mão esquerda em teste de preensão manual (CLAESSENS et al., 1984).

Porém, deve-se destacar que a força de preensão manual tende a aumentar à proporção ao aumento da estatura, e com o aumento da massa corporal(FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2001), e as circunferências de braço relaxado e contraído e de antebraço influenciam positivamente os resultados de preensão manual, apesar de essa correlação ser moderada (MOREIRA et al., 2003).

POTÊNCIA E CAPACIDADE AERÓBIA APLICADAS AO JIU-JITSU

Potência aeróbia máxima, VO2máx, é uma medida reproduzível da capacidade do sistema cardiovascular de liberar sangue a uma grande massa muscular envolvida num trabalho dinâmico (POWERS; HOWLEY, 2000). Capacidade aeróbia é a capacidade máxima de transportar e utilizar oxigênio.

Considera-se o poder aeróbio um importante indicador de aptidão física cardiovascular (LATIN, 1997).A capacidade aeróbia é indicada pelo limiar anaeróbio, momento onde passa a prevalecer o metabolismo anaeróbio (POWERS; HOWLEY, 2000).

Conhecer a zona de transição aeróbia/anaeróbia dos atletas de lutas se faz importante para controle do trabalho através da FC, individualizando o número de combates realizado por cada atleta na sessão de treino, pois uma sustentação por longo período do trabalho acima desta zona pode influenciar negativamente nos aspectos neuromusculares que exige a modalidade(RODRIGUEZ et al., 2007).

Acredita-se que valores elevados da potência e da capacidade aeróbia proporcionem ao atleta manter uma intensidade elevada durante toda a luta, retardando o acúmulo de lactato, e proporcione maior recuperação entre as lutas (CASTARLENAS; SOLÉ, 1997).

Atletas de judô norte-americanos de elite apresentaram VO2máx entre 53,2 ± 1,4 ml?kg?min (CALLISTER et al., 1990). Judocas da seleção canadense apresentaram valores de 59,2 ± 5,2 ml?kg?min (THOMAS et al., 1989). Não existe exigência de valores acima de 65 ml?kg?min, nem indicações de que o VO2máx acima desse valor possa trazer vantagens, uma vez que o treinamento concorrente pode diminuir a capacidade do desenvolvimento de força e potência.

Em atletas com mais de 90 kg tem sido comum encontrar valores de VO2máx abaixo de 50 ml?kg?min (FRANCHINI, 2001).

O treinamento para melhorar o VO2máx é importante para atletas que competem em provas de média duração (2-3 minutos a 10-15 minutos) (DENADAI, 2000). Atividades com intensidade sub-máxima,tanto intervaladas quanto contínuas, não são capazes de aumentar o VO2máx em atletas que já possuem uma elevada potência aeróbia. Desta maneira tem sido comum a utilização do método intervalado, o qual tem se mostrado eficiente para o aumento da performance competitiva. Este método produz intensidade igual ou superior à encontrada na competição (BARBANTI et al., 2004).

Em atletas altamente treinados se faz indispensável ao menos uma ou duas sessões de treinamento intervalado de alta intensidade, acima do VO2máx, para que ocorra melhora do VO2máx. Porém, a intensidade e volume devem respeitar a individualidade do atleta para evitar o overtraining (DENADAI, 2000). Exercícios de tiros e alto intervalo, 90 segundos a 3 minutos, tendem a não aumentar o VO2 de Pico, diferente do treinamento com menor tempo de intervalo, entre 20segundos e 1 minuto (FLECK; KRAEMER, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar o treinamento desportivo aplicado ao Brazilian Jiu-jitsu se pode perceber que ainda existem diversas lacunas a serem preenchidas, visto a evolução do esporte. Com base em dados disponíveis da modalidade, e com bases em dados de modalidades semelhantes, como luta olímpica e judô, pode-se relatar que a principal base a ser seguida é a definição de quais fatores são determinantes e quais fatores são limitantes do desempenho em lutas de Brazilian jiu-jitsu.

A partir disto, deve-se conduzir o treinamento com a maior especificidade possível, evitando a inclusão de exercícios gerais e que não se enquadre nas demandas energéticas da modalidade. Contudo, devem ser estimulados mais estudos acerca do Brazilian Jiu-jitsu, visto que ainda existem muitas questões a serem investigadas.




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