ANÁLISE: UFC 131 - Cigano VS Carwin
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ANÁLISE: UFC 131 - Cigano VS Carwin



Uma névoa estranha pairou no ar desse explosivo UFC 131. Não densa para obscurecer a qualidade altíssima dos combates, mas suficiente para dar a impressão de que os resultados que ocorreram com justiça acabariam por acontecer de qualquer maneira. Quase que um baralho de cartas marcadas na manga do crupiê que não precisou ser usado. Maia e Nunes realmente perderam suas lutas, mas cada um teve o primeiro round de superioridade clara pontuado como vitória para o adversário. Os brasileiros realmente perderam dois dos três rounds, mas com a impressão de que fora um nocaute ou finalização, nada que fizessem alteraria o resultado da luta. Ou estavam tendenciosos em credenciar um lutador famoso a disputar o cinturão com José Aldo e proteger maior ídolo Filipino do MMA ou assisti X-Files demais na infância. Nesse UFC a verdade esteve tanto dentro quanto fora do octagon.

Cigano VS Shane Carwin

Carwin já provou que tem o queixo duro, mas a mão de Cigano é mais. Shane Carwin poderia ter tido uma carreira brilhante tivesse surgido na época de Mark Coleman ou começado a se dedicar mais cedo ao esporte. Engenheiro, pai e atleta nas horas vagas, tem uma força e coragem raros. Poucos atletas com filhos para criar se permitiriam apanhar como apanhou no primeiro round sem pedir clemência e tentar preservar alguns neurônios para reconhecer a família no dia seguinte.

MMA é tão psicológico quanto técnico e físico. Mestres como Anderson, Pierre, Fedor e um punhado de outros compreendem a magnitude das valências que compõem um grande atleta. Um olhar perdido na pesagem ou um striker tão temido quando Shane tentar derrubar Cigano logo de cara, pode mudar a voltagem da luta de 110 para 220. Carwin disse que sonhou com esse combate, ia ser o melhor de todos os tempos, estava empolgado em explodir contra alguém que não fosse fugir de seus socos e testar seu queixo, mas a primeira coisa que fez foi tentar levar o brasileiro para baixo. Claramente trocar com o puro sangue Cigano não pareceu tão empolgante quando trancaram os dois dentro da jaula. A única coisa que realmente conseguiu colocar no chão com seu excelente wrestling foi sua auto-estima. Acabou espancado no primeiro round que não foi interrompido simplesmente porque galáxia inteira queria uma luta muito mais grandiloquente do que um atleta de quatro levando golpes sem reagir.

Para Carwin a luta acabou no primeiro round. Os outros dois passou tentando impedir que saísse desse UFC 131 direto para a mesa de cirurgia de novo. Todo atleta tem um limite de socos que agüenta tomar até que não agüente tomar mais nenhum. Um número que vai regredindo com o passar dos anos. Chuck, Wanderlei, Minotauro e Sakuraba demoraram uns 10 anos de porradas até o seu timer chegar a zero, mas a sova que recebeu nesse evento o aproximou perigosamente dessa marca. Se tinha queixo de titânio, agora tem de concreto. Tirando da cabeça o sonho insólito de ser campeão peso pesado, ainda pode protagonizar lutas muito interessantes contra Browne, Mitrione ou Kongo.

Cigano é um dos três melhores strikers do MMA pesado atualmente, mas o lacre que o faz tão perigoso é o gatilho que falta para se tornar lendário. Cigano tem uma calma, controle e aplicação tática de campeão e isso neutraliza seu faro de sangue, seu instinto matador. Aonde Wanderlei só parava de atacar até o adversário estar em pedaços, Cigano para estrategicamente. Foi inteligente de sua parte poupar os ossos da mão ao longo dos últimos rounds da luta, não dar chance para o adversário já derrotado marcar um rendevour com a sorte, não se lesionar ou se desgastar mais do que o necessário. Cigano poderia ter triturado Carwin antes do fim, mas trocou a glória pelo resultado certo.

Respeito e tento ver beleza nos diferentes modos de se comportar no momento da luta, como cada grande atleta encontra modos diferentes de ser perigoso e Cigano é um dos mais letais do planeta. As lutas contra Nelson e Carwin tanto nos mostraram seu poder de destruição quanto seu controle quase sórdido sobre ele. Tem a caixa mas só come um bombom.

Um dos talentos mais unânimes da atualidade, Cigano parece achar que pode administrar perfeitamente sua carreira fora dos octagons como faz dentro ao se disvincular de seus empresários de longa data Joinha e Ed Soares, conseqüentemente sair da Black House e cessar os treinos com Anderson, Minotauro e etc. Mudar toda a trupe que o ajudou a chegar aonde está nas vésperas do momento máximo, da luta pelo cinturão, pode ter sido um xeque mate ao contrário. Enquanto Cigano estiver se readaptanto ao treinamento, sparrings e etc, Velasquez estará alicerçado pela mesma equipe que o conhece desde o começo. MMA é mais do que estratégia, lógica e prudência. Coração é o estabilizador de voltagem aonde tudo se encaixa. Enquanto Cigano parte o de gente que deveria ter sido para ele mais do que apenas empresários e parceiros de treino, Velasques tem o seu como maior arma.

Cain VS Cigano já tem uma página em branco reservada no arquivo das lutas do século.

Diego Nunes VS Kenny Florian

Florian não é melhor lutador que Diego, é apenas mais inteligente. Na verdade é a inteligência de Kenny que vem o mantendo competitivo num esporte aonde quase todos são maiores, mais fortes ou mais perigosos do que ele. Uma máquina de auto upgrade, Florian prefere abastecer seu HD com dados dos adversários do que aprimoramentos técnicos. Arquiva mais estratégias e pontos fracos, do que novos golpes ou movimentos. Estuda mais o que fazer para vencer do que aumenta o arsenal.

Em sua primeira luta no peso pena, Florian que era David nos leves virou Golias. Enorme e longo para a categoria venceu o talentoso e perseverante Nunes por experience-lock. Enquanto o americano sabia exatamente o que fazer, o brasileiro parecia ir decidindo no meio do caminho. Improvisar com eficácia é qualidade dos gênios, e por mais que Nunes seja excelente, não tem terra nesse latifúndio. Florian foi suplantado pelo excesso de coragem e fé de Diego no primeiro round e virou a luta com pragmatismo quase matemático nos outros.

Diego perdeu com brios e sangue para um astro do MMA mundial, mostrou que ainda é TOP 5 no peso e manteve a tradição de grandes lutas do clã Pederneiras. Florian pode ver seu sonho de se tornar campeão virar pesadelo ao ser fatiado pelas vingativas canelas de katana de Aldo.

Kenny Florian VS José Aldo será Kill Bill total.

Demian Maia VS Mark Munoz

Sem a menor vergonha Maia vai trocando suas peles em constante metamorfose frente as câmeras para todo o planeta ver, de UFC em UFC. São estou certo de que me agrada o tipo de criatura que está se tornando, mas é bem divertido assistir. Quando um dos melhores lutadores de jiu-jitsu em MMA, talvez o melhor, resolve virar striker e passar horas e horas lapidando sua trocação, me parece o marido que resolve trair a mulher depois de 40 anos de casado. Mesmo assim o que Maia fez no primeiro round contra Munoz foi assombroso. Qualidade de movimento, precisão, volúpia que anda em falta em muita gente que diz adorar trocação. Deve ter voltado para o corner imaginando que se estivesse tão afiado assim contra Anderson o resultado da luta seria diferente. Seria sim, teria se exposto e acabaria nocauteado. A arte que aprendemos primeiro nos marca, deixa código de barras em cada molécula. Por mais que aprendamos outras com o tempo, são complementares. Planetas ao redor do sol. E por mais que Maia esteja evoluindo demais, jamais será um grande trocador. Pode no máximo ser o melhor trocador dos atletas oriundos do jiu-jitsu. Há alguma coisa diferente em quem treina em pé desde pequeno. O jeito de bater, apanhar, a adrenalina do constante rasante de luvas balançando a orelha, o prazer em atacar, chocar. Maia não tem isso e perdeu os outros dois rounds tentando manter a luta em pé e quando conseguia, não era eficaz. Não é essa a sua natureza. Só temo que acabe como o português que se mudou para a Alemanha, não aprendeu alemão, esqueceu português e acabou mudo. Demian perder uma pegada de costas com menos ajuste do que um faixa azul me faz crer que ele está jogando o jiu-jitsu para fora de casa e entulhando as gavetas com jabs e diretos.

Maia tem que terminar logo essa mudança, tomar uma decisão e seguir em frente, quase uma escolha de Sophia, o que nunca conseguirá é virar Anderson Silva.

O que vemos do Munoz em cada luta é tudo o que ele é. Não tem mistério, mensagem subliminar ou armas secretas. Ele aceita a trocação e se não der, derruba e larga a mão. Pronto. Nada mais, nada menos. Um lutador como tantos, relevante demais para seu país, irrelevante para os outros. Munoz não é bom o suficiente para enfilerar vitórias importantes ao ponto de disputar o cinturão nem ruim o bastante para sair perdendo e ser cortado. Sua importância no UFC será proporcional a sua relevância junto aos torcedores filipinos. Perdeu claramente o primeiro round e venceu por pouco os outros numa luta bem movimentada aonde os dois precisavam demais da vitória para não irem parar no card preliminar.

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