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ANÁLISE - UFC 117: Anderson VS Sonnen
Em matemática, triângulos medem ângulos, em MMA parece que alteram destinos. Se o triângulo de Werdum sobre Fedor abalou as estruturas do esporte como conhecemos, o triângulo de Anderson Silva em Chael Sonnen nesse UFC 117 manteve as coisas como deveriam ser. Sonnen parecia estar passando mel na bunda antes de sentar no formigueiro com as ofensas e piadas jogadas sobre o campeão durante 3 meses. Qualquer fã mais antigo e respeitoso com as habilidades do atual campeão achou que a vitória não tardaria a vir e viria sem dificuldades. No meu caso, apostei no encaixe do joelho de Anderson dentro na cavidade craniana nasal de Sonnen no primeiro round. Isso não aconteceu. Presenciamos um Anderson irreconhecível, lento, aceitando as quedas e aceitando ser controlado no chão, quase como se estivesse amargurado e ressentido com a reação hostil de tantos fãs nesses últimos meses por conta de suas últimas atuações, quase como se estivesse disposto a abrir mão do cinturão. E Sonnen, que não é brasileiro, mas não desiste nunca, preparou aquele mesmo arroz com feijão conhecido mas com o temperinho especial da vovó. O americano fez durante 4 rounds e meio exatamente o que ele disse que ia fazer, botou para baixo e espancou Anderson como se fosse um animal, como um fazendeiro pisoteia ferozmente uma cobra venenosa que estava prestes a entrar em casa e colocar sua família em risco. E continuava pisando e pisando, mesmo depois dela parecer morta. Esse é o resumo da luta até que Anderson, que estava irreconhecível, resolveu, sem mais nem menos para nós mortais, destilar uma única qualidade dentre todas as suas, uma única em meio a todas que não vimos nem com lupa nessa luta, mostrou uma resma, uma raspa, uma mini gota de genialidade e finalizou a luta rapidamente, quase que do nada. Criou o fantástico do caos, brotou e colheu a rosa do asfalto. Manteve o curso das coisas, escreveu certo por linhas tortas. Mais um acabou capturado na incompreensível teia do Aranha.
Uma das coisas gostosas em ser criança é, por sermos inexperientes e inocentes, nos surpreendermos com tudo. A luta entre Junior dos Santos e Roy Nelson me fez sentir criança. Poucas vezes uma luta foi tão surpreendente em tantos aspectos. Era claro que a única chance de Roy seria levar o Cigano para o chão, aonde iria derramar sobre o brasileiro seu jiu-jitsu excelente e seus 100 kilos de barriga. Mas isso não aconteceu. Fora breves tentativas de queda, Roy aceitou a trocação e ainda conseguiu acertar perigosos golpes, cambalear o adversário uma vez e abrir um corte em seu rosto. Cigano já provou que trocar socos com ele é como andar na contra mão na auto-estrada do Matrix Reloaded. Se Roy optasse por lutar em pé acabaria dormindo sem travesseiro e cobertor. Mas isso não aconteceu. Cigano bateu tanto que deve ter ficado com a mão em brasa, e o atleta que me lembra o Kung Fu Panda, permaneceu em pé, descabelado e persistente. Quem imaginaria uma trocação de 3 rounds aonde Roy não sairia nocauteado e Cigano, mesmo vencedor, sairia ferido? Só uma criança mesmo para inventar uma história maluca dessas.
Matt Hughes finalizou Ricardo Almeida, faixa preta de Renzo Gracie, que ele também havia vencido, como já venceu seu outro aluno Matt Serra e Royce Gracie. Se usarmos o esporte para trazer justiça poética aos questionamentos da vida, apenas duas lutas seriam relevantes para Hughes: Rickson Gracie e Kazushi Sakuraba. O maior dos gracies ou o lutador que mais venceu gracies. Não seriam lutas para alterar o ranking, ambos adversários estão longe de sua juventude e auge das carreiras, mas seria divertido demais. Seria uma jóia no cinturão do lado show do MMA. Uma jóia de puro entretenimento e de conseqüências mais históricas do que esportivas, como não vemos desde os primórdios do Pride.
Thiago Alves perdeu de novo para seu arqui-rival Jon Fitch, numa sacal decisão por pontos. Ver Fitch lutar é como montar um cubo mágico com todos os lados da mesma cor. Não interessa para onde vai girar, ou o que vai fazer, sempre dá na mesma coisa. Ninguém vence Fitch e Fitch não vencerá St. Pierre, porque os dois são iguais só que um tem motor 1.0 e outro 3.0 flex. Thiago é o lutador de MMA mais ressentido da atualidade. Enquanto outros atletas lutam para ficarem cada vez mais completos, ele deve mandar currículos com vídeo para o K1, porque ele só quer lutar em pé. Enquanto outros misturam, ele vai separando. Outros adicionam técnica, ele vai subtraindo. Alves era um excelente lutador de muay-thai, dava socos e joelhas, depois implementou seu jogo de chão e, por fim, afiou seu wrestling. Era um lutador completo. Aos poucos, como se técnicas marciais fossem roupas que vamos deixando pelo chão até entrarmos no chuveiro, ele parou de lutar no solo. Procurava se manter em pé com wrestling e usar muay-thai. Depois parou de usar chutes e joelhadas, ficava em pé apenas para boxear. Agora, parou de usar seu wrestling, sendo derrubado a esmo. O Thiago de hoje só quer, só sabe e só gosta de dar socos. Thiago é um bom boxer, mas é visível sua insatisfação com outros aspectos do MMA. Não há problema. Só deveria mudar de esporte para lutar com motivação. Quem acompanhou sua carreira percebe que ele não está feliz. E ver um atleta dentro do octagon sem vontade de estar lá me lembra rinha de galo. E isso não é bom.
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