Problema étnico-cultural-político atual na Luta
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Problema étnico-cultural-político atual na Luta






Na gélida Taraz, no sul do Cazaquistão, Marat Garipov só via o sol brilhar três meses no ano. Mas era competindo nos tapetes de uma das potências orientais da luta olímpica que o vice-campeão mundial do estilo greco-romana, até 55kg, tinha mais dificuldades para encontrar luz e calor.

Sentindo-se preterido por questões étnicas e políticas, ele percebeu que o sonho de disputar uma Olimpíada terminaria em frustração e decidiu cruzar o mundo em busca do seu paraíso particular. Desde que chegou ao Rio, em dezembro, para surpresa dos dirigentes da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA), Garipov, de 26 anos, literalmente trocou a sombra pela água fresca.

- O Brasil é paraíso - diz o lutador, num português autodidata arrastado, mas que impressiona. - Aqui, todo ginásio tem água para beber. No Cazaquistão, não. Tinha que comprar fora ou ferver, para não ter dor de barriga.

O bebedouro do Centro de Treinamento da CBLA, na Tijuca, é apenas uma das "maravilhas" que Garipov encontrou por aqui. Ele ganhou um dos cômodos do apartamento alugado pela confederação, no qual moram dois técnicos cubanos, e conta com uma ajuda de custo de R$ 500.

Sua bagagem inteira se resume a uma pequena mochila vermelha, que ele carrega para os treinos, com algumas peças de roupa, um pequeno notebook, para manter contato com a família e traduzir palavras para o português, o passaporte e recortes de jornais do Cazaquistão sobre suas vitórias.

- Aqui não tem neve. As pessoas são boas. Eu vencia todos os asiáticos que lutam o Mundial, mas não podia ir à Olimpíada porque sou do sul, não pareço com eles. Tinha questões políticas. Agora, quero participar de uma Olimpíada pelo Brasil - afirmou.

O processo de naturalização nem é a parte mais complicada, mas, pelas regras da Federação Internacional, Garitov só poderia defender o país depois de ficar dois anos afastado de competições oficiais. A última que disputou foi o Campeonato Asiático, no dia 15 de maio do ano passado.

O problema é que a última seletiva olímpica da greco-romana está marcada para 10 de maio do ano que vem, na Finlândia. Ou seja: mesmo com nova cidadania, por cinco dias ele ficaria impedido de lutar pela vaga em Londres. A única chance seria a improvável hipótese de um outro lutador brasileiro garantir a vaga da categoria e ele assumi-la. Mas, para os Jogos do Rio-2016, ele estaria com 31 anos, uma idade considerada razoável para a modalidade.

- Para nós, o importante não é só ele participar das Olimpíadas, mas ajudar no desenvolvimento da luta. O Garipov já treina com nossa maior esperança para a Rio 2016, o Diego Romanelli (até 60kg) - explica o superintendente da CBLA, Roberto Leitão, explicando a curiosa vinda do cazaque.

- Ele procurou nosso presidente (Pedro Gama Filho), durante o Mundial da Rússia, no ano passado, dizendo que queria vir para o Brasil. O Pedro o convidou para a Copa São Paulo, em dezembro, mas ninguém achava que ele fosse vir. Até que o Garipov apareceu em São Paulo com a mochilinha vermelha.

Feliz com a acolhida dos brasileiros, Garipov já virou alvo de gozações dos companheiros de seleção, seja por seu prato predileto, uma mistura de arroz, leite quente e açúcar, ou pelas aventuras na cidade, como o dia em que decidiu subir a pé da Rua das Laranjeiras até o Cristo Redentor e voltou exausto.

No Natal, convidado para a ceia de um atleta da seleção, na Ilha, foi vestido com boné, camisa e short da Caixa, patrocinadora da CBLA, achando que se tratava de uma grife da moda.

- Com um real, compro banana, abacaxi... No meu país, fruta vem de fora. Brasil é o paraíso - repete Garipov.


Fonte: http://oglobo.globo.com



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