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Auto-estima de lutadores de Jiu-Jitsu
Como anda a auto-estima dos atletas brasileiros de Jiu-Jítsu antes e após as competições? Lembrando que auto-estima pode ser definida, dentre outras atribuições, como a avaliação subjetiva que um indivíduo faz de si, sendo positiva ou negativa.
Para responder à questão inicial proposta neste artigo, seguem os principais dados de uma pesquisa publicada recentemente, na qual identificaram os níveis de auto-estima de 12 experientes lutadores que participaram do campeonato Brasileiro ou Sul Brasileiro de Jiu-Jitsu.
Leandro Paiva
Introdução
De acordo com Voli (1998), a auto-estima não pode ser simplesmente um sentimento de auto-satisfação, dada sua grande relevância nas relações com os outros e com o meio. Quando o meio em destaque é a competição, fica evidente a influência da cobrança sobre o atleta e isso implica em uma ligação direta com o seu desempenho.
Okazaki; Keller e Coelho (2005), numa pesquisa feita com uma modalidade de esporte coletivo, conclui que a auto-estima pode ser um dos fatores que influencia no resultado da competição e no nível técnico dos atletas, estabelecendo, também, uma relação entre a auto-estima e performance. Da mesma maneira podemos considerar que a auto-estima passa a ser, também, a principal demonstração de confiança e de bem estar dentro das particularidades do esporte individual, no caso desta pesquisa, o jiu-jitsu propriamente dito aliado à competição. Jabu (2000), ainda afirma que na competição o importante é ser competente, disputar com dignidade, obedecendo às regras e, quando possível, ganhar.
Mesmo assim os atletas de jiu-jitsu, quando em fase de pré-competição, tem quase que exclusivamente por objetivo a vitória e é nesse momento que a auto-estima torna-se um fator decisivo no controle do crescimento pessoal frente às situações de rendimento, já que o nível da auto-estima, segundo Branden (2000), não é algo fixo e nem definido, podendo vir a sofrer alterações.
No jiu-jitsu não é diferente, o desgaste mental sofrido pelo atleta é muito grande, até mesmo atletas mais experientes e melhor preparados podem sofrer um descontrole de suas ações devido às pressões e emoções não controladas por ele mesmo. O próprio lutador de jiu-jitsu é quem deve reconhecer as características de sua personalidade adotando uma conduta adequada em relação às diferentes respostas das situações competitivas ou até mesmo da simples prática de exercícios físicos (GRACIE, 2001).
Segundo Sonstroem e Morgan (1989), a auto-estima tem revelado ser a variável psicológica que melhor traduz os benefícios psicológicos da prática de exercícios físicos, além disso, pesquisas têm revelado que os indivíduos praticantes de exercícios físicos apresentam níveis mais positivos de auto-estima global quando comparados com aqueles que não praticam (SONSTROEM; HARLOW e JOSEPHS, 1994).
Branden (2000), em sua definição preliminar utiliza a palavra ?confiança? para designar auto-estima, atribuindo-a como a capacidade de enfrentar desafios. Esta convicção/confiança é tanto um fator motivacional quanto de comportamento, visto que para o lutador de jiu-jitsu ela se encaixa melhor na forma de autoconfiança, podendo até ser definida como uma crença de que o atleta pode realizar com sucesso um comportamento desejado, despertando atitudes positivas (WEINBERG e GOULD, 2001).
Considerando que o nível da auto-estima influencia o comportamento do atleta e que as situações competitivas também podem provocam mudanças nos níveis de auto-estima, o presente estudo teve como objetivo comparar os níveis de auto-estima dos lutadores de jiu-jitsu entre os períodos pré e pós-competição.
Resultados
Ainda nos níveis de auto-estima dos lutadores de jiu-jitsu, constatamos que 58,3% dos lutadores de jiu-jitsu tiveram um aumento no grau de sua auto-estima, 33,3% mantiveram os mesmos níveis e apenas 8,3% tiveram uma diminuição.
Os resultados obtidos nesta pesquisa nos mostram uma mudança de comportamento positiva decorrente da alteração nos níveis de auto-estima dos lutadores de jiu-jitsu. Essa mudança nos níveis de auto-estima foi gerada, quase que exclusivamente, pela situação competitiva, ou seja, o papel da competição nesta pesquisa foi definido como incentivador indo de encontro ao pensamento de De Rose (2001), o qual menciona que qualquer que seja o nível do atleta envolvido ou do esporte disputado, a competição representa um constante desafio tornando-se uma ameaça ao atleta.
Para os sujeitos desta pesquisa a competição foi vista como um processo natural e não apresentou conceito negativo em relação à auto-estima. Mesmo os atletas já apresentando uma auto-estima elevada no período pré-competitivo, foi após a competição que percebemos aumento considerável, concentrando-se de maneira alta.
A própria situação competitiva pode ter proporcionado aos atletas um novo perfil de avaliação pessoal e emocional, ou seja, os lutadores sentiram-se mais confortáveis com sua auto-imagem. Branden (2000), ainda descreve que esses lutadores podem ter se tornado atletas mais persistentes frente às dificuldades, com um maior preparo para trabalhar os entraves que surgem no cotidiano, sejam eles pessoais e profissionais.
Esses resultados reforçam a idéia de Abrantes (1998), o qual afirma que o fato de o indivíduo ser confrontado diretamente com uma dificuldade física ou com um desafio psicológico e conseguir ultrapassá-lo, acarretará em mudanças na sua imagem corporal, na sua auto-imagem e no seu sentido de realização. A própria competição é um exemplo desses confrontos, uma vez que ela cria uma interação entre os fatores pessoais como os de personalidade e de comportamento (MARTENS; VEALLEY e BURTON, 1990).
Uma pesquisa feita por Cardenas (2003) revelou diferenças significativas nos estados emocionais de jogadores de futsal nas competições e nos treinamentos. Essas diferenças vão ao encontro dos resultados obtidos nesta pesquisa já que podemos fazer uma possível associação do estado emocional do atleta com o nível de auto-estima, pois de acordo com Hurtado (2004), falar de auto-estima é falar de emoções fortemente ligadas ao indivíduo.
Cardenas (2003) identifica em sua pesquisa que tanto nos mbatpredominante no atleta na competiçionais de jogadores de futsal treinamentos quanto nas competições, o estado inicial predominante dos atletas é compatível como sendo ótimo, modificando-se apenas em alguns atletas no final das competições. Dessa maneira percebe-se uma grande semelhança entre o resultado dos dois estudos, visto que na atual pesquisa a auto-estima também se encontrava elevada no período de treino (pré-competição).
Podemos salientar, ainda, a mesma influência que a competição causou em ambas as pesquisas provocando alterações tanto nos níveis de auto-estima como também no estado emocional dos atletas.
Além disso, de acordo com o estudo de Okazaki; Keller e Coelho (2005), há correlação significativa entre o resultado da competição e auto-estima. Entretanto, o baixo valor de correlação obtido no estudo indica que vários outros fatores podem estar interferindo nessa associação, o que justifica nossa opção por não medir a auto-estima relacionada ao desempenho. De acordo com Branden (2000), atletas estão mais bem preparados para lidar com situações de derrota, o que explica a questão positiva da competição independente de ter vencido ou perdido.
Conclusão
De acordo com a escala de Rosenberg (1965) foi possível identificar valores elevados de auto-estima dos lutadores de jiu-jitsu antes da competição. A despeito disso, mais da metade dos lutadores apresentaram nível de auto-estima pós-competição melhor do que pré-competição.
Tal fato refletiu positivamente, causando diferença significativa nos níveis de auto-estima dos lutadores de jiu-jitsu pós-competição. Assim, conclui-se que para os lutadores de jiu-jitsu a competição pode ser vista como um fator motivacional de caráter positivo, podendo ser responsável pelo aumento nos níveis de auto-estima da grande parte dos lutadores.
O estudo contribui no sentido de sugerir para treinadores e lutadores a participação em eventos competitivos, uma vez que os dados indicam que eles podem trazer reflexos positivos na melhora de um importante componente psicológico, a auto-estima. Isso pode trazer conseqüências interessantes referentes ao desempenho dos sujeitos.
Referência:
Souza, D. et al. Auto-estima de lutadores de jiu-jitsu no período pré e pós-competição. Revista Digital EFDeportes, Año 14, Nº 142, 2010.
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