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ANÁLISE - WEC 51: Aldo VS Gamburyan
Dana White incansavelmente brada aos 4 ventos, twitter, entrevistas na ESPN e aonde quiserem ouvir, que não há eventos de MMA no mesmo nível competitivo, técnico e de qualidade que seu UFC. Mas é ele mesmo que nos prova estar errado em suas declarações com o WEC, outra organização dirigida por ele, ao oferecer evento após evento um aglomerado de lutas boas e competitivas que provam, para aqueles ainda incrédulos ou iniciantes no MMA, haver grandes lutadores fora do maior evento do mundo. Apesar disso, esse WEC 51 esteve abaixo das expectativas estelares a que já nos acostumamos, com alguns combates arrastados e muitas decisões dos juízes. Mas WEC é como pizza, mesmo quando é ruim, é bom, e esse, mesmo apesar de não despentear nosso cabelo ao passar zunindo a 200 km por hora como os anteriores, nos apresentou 3 grandes momentos. Uma grande certeza, uma grande luta e uma grande revelação.
José Aldo VS Many GamburyanGamburyan é um dos lutadores mais perigosos no peso. Muito curto, seus cruzados se tornam velozes e mortais a pequena distância, tem um forte poder de fogo no ground and Pound, uma boa base de wrestling, é explosivo e arisco, determinado e tem um bom queixo. Já tinha provado ser um bom desafiante ao cinturão do WEC ao nocautear o duríssimo ex-campeão Mike Brown em sua última luta. Seria uma inverdade ou, no mínimo, imprudência afirmar que Many não tinha chances contra o campeão José Aldo. Mas, cá pra nós, Many não tinha a menor chance mesmo. E, quem teria? Quem, no planeta, no peso, fora as improbabilidades loucas e apaixonantes que o MMA nos impõe de num dia fora do eixo, qualquer coisa acontecer, tem chances de vencer o brasileiro? José Aldo é um dínamo, um átomo friccionando dentro de uma caixa de chumbo. Socos, chutes, joelhadas velozes e precisas, finalizações secas num jiu-jitsu justo muito bem afiado por André Pederneiras. Tudo isso energizado por uma calma e frieza de predador frente a presa. Se cada organização fosse um universo, posso dizer que a estrela de Aldo brilha com tanta intensidade que já ofusca alguns outros astros tão mais perto de nós, no universo UFC. Sua qualidade atravessa constelações como um cometa, destrutivo e magnético. Esportivamente, seus treinadores e ele podem achar que deve permanecer mais um tempo dominando o peso e fazendo de grandes adversários, míseros derrotados, mas, filosoficamente, ele não poderia nos privar de vê-lo contra outros astros do peso leve, em lutas memoráveis, antológicas. Aldo contra Penn, Gomi, Edgar são alguns exemplos de combates que tem que ser realizados. José Aldo trilha um caminho diferente da maioria dos lutadores, trilha o caminho fantástico que pode levar um homem a se tornar uma lenda. E Many vai voltar a fazer lutas excitantes e torcer para Aldo subir de peso para ele ter alguma chance de realizar o sonho de se tornar campeão no WEC.
Donald Cerrone VS Jamie VarnerO homem descobriu o fogo pelo atrito de duas rochas e Cerrone versus Varner poderia ter incinerado a lona do WEC tamanha a violência da colisão entre os dois durante 3 rounds. Como numa briga de facão, parecia que de cada golpe vinha um impacto raspado seguido de fagulhas. Houve técnica por parte de Donald Cerrone. Um boxe longo, jogado por fora, combinados de fintas e jabs com quedas tão precisas que conseguiram colocar o wrestler nível divisão 1, Varner, no chão algumas vezes. Mas foi a violência com que Cerrone buscou a vitória, a intensidade com que lançava golpes, não deixava um soco sem resposta, numa volúpia combativa, numa vontade de vencer que deu até dó de tantos outros atletas que entram num octagon olhando para o relógio e fazendo conta. Cerrone não só venceu essa revanche, como tanto queria e prometeu, mas provou que MMA é um esporte de atrito, de contato, e um grande atleta tem que estar disposto a disparar toda a munição que tem durante o pequeno tempo em que compete diante dos holofotes e agüentar o que é disparado contra si. Cerrone levou duros golpes no queixo de Varner mas, a cada golpe, parecia mais pensar em revidar do que dar um passo atrás e imaginar táticas de fuga. Uma grande luta, agressiva e temperada por um desejo de vingança esportiva. Normalmente quando dois lutadores se xingam demais antes do evento, tendem a estar latindo demais para vender pay per view porque não são muito bons em distribuir mordidas. Mas, nesse caso, os dois encheram suas garruchas de pólvora seca e muito chumbo grosso. Quando ao fim de uma luta queremos ver mais combates dos dois envolvidos, é porque os dois saíram ganhando. Cerrone, dá um passo a frente no ranking e Varner, um atrás. O que só muda a distãncia entre os dois, porque acima deles, apenas Ben Handerson e abaixo, todos os outros.
Tie Quan Zhang VS Pablo GarzaOutro destaque desse WEC 51 aconteceu nas preliminares, numa luta que marcou a estréia na organização de um dos lutadores mais promissores do MMA atual. O chinês Tie Quan Zhang que está invicto e tem todas as suas vitórias no primeiro round manteve seu cartel imaculado vencendo por finalização o também invicto, até então, Pablo Garza. Zhang, o lobo da Mongólia, é representante da China Top Team e um dos lutadores mais vorazes do mundo. Sua busca pela finalização é sempre feroz e seu boxe é extremamente agressivo e audacioso. Zhang tem um jogo sólido como a muralha da China. É um lutador com sede de vitória que entra no octagon quase que como carregando, sozinho, a bandeira de seu país. Quase um desbravador, quase um messias, com a atitude de superar seus adversários numa ode a sua pátria natal, China, como Fedor parecia se comportar com relação a sua amada Rússia. Zhang parece que entra para o combate com um exército de milhões dentro dele, pode se tornar o lutador que Dana White tanto procurava para ajudar na inserção do UFC /WEC, na Ásia. Zhang é mais uma prova de que o MMA derruba as barreiras alfandegárias dos preconceitos raciais ao criar ídolos primeiros em técnica, depois em nacionalidade. Temos que aprender a pronunciar seu nome corretamente porque é um lutador que vai escalar o ranking do peso leve em muito pouco tempo. Pablo Garza, apenas um bom lutador, fará outras lutas interessantes, mas trilhará um caminho bem menos iluminado que de seu oponente.
TWITTER: @nicoanfarri
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