Diário da Expedição aos Registros de Lutas da Pré-História: Parte II: viagem até São Raimundo Nonato e primeiros desdobramentos
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Diário da Expedição aos Registros de Lutas da Pré-História: Parte II: viagem até São Raimundo Nonato e primeiros desdobramentos



Mapas ilustrados do Parque Nacional Serra da Capivara. Clique nas imagens para ampliá-las.

Diário da Expedição aos Registros de Lutas da Pré-História: Parte II - Sábado até domingo (17 até 18/10/2015).


Conforme relatei na Parte I (Chegada ao Piauí), "peguei" ônibus na rodoviária de Teresina - PI no sábado (17/10). Por volta de 20:30h partiu em direção à cidade de São Raimundo Nonato - SRN, com previsão de chegada às 04:00h de domingo (18/10). Ao meu lado sentou uma jovem, sacando da bolsa, imediatamente, o livro "A Arte da Guerra" (Sun Tzu). Curioso, pois somente nós estávamos lendo, com os holofotes sobre os respectivos livros. Todo o restante do ônibus dormia, com exceção do motorista. 

Meu livro era um esquenta do que estava por vir. Lia pela segunda vez o clássico "Imagens da Pré-História" da pesquisadora francesa Anne-Marie Pessis. Após conversa sobre a expedição, a jovem sentada ao lado informara que seu nome era Kaylanne e que seria candidata a prefeita em 2016 pelo município de Jurema, próximo de SRN. Nutria certo sentimento de ódio e vingança pelo atual prefeito da cidade, ex-aliado político de seu pai. Quando cheguei em SRN às 04:00h em ponto, a (talvez) futura prefeita de Jurema estava em sono profundo. Posteriormente, achei a imagem abaixo. 

Dra. Kaylanne (PMDB) em campanha. Fonte: 180graus.com


Bem antes de embarcar para o Piauí já mantinha excelente contato com a lenda viva da arqueologia mundial, Prof. Dra. Niède Guidon e a coordenadora de projetos da Fundação Museu do Homem Americano - FUMDHAM, a uruguaia Rosa Trakalo. Havíamos combinado que ficaria alocado em um alojamento destinado aos pesquisadores visitantes e estudantes de arqueologia. Quase nunca há vaga. Dei sorte, pois a Pousada Pró-Arte, anexa à escola de mesmo nome, estava completamente vazia em função da greve das universidades federais. 

A Pró-Arte já foi casa da Prof. Niède, matriz da FUMDHAM e hoje funciona como escola de música, artes e idiomas para população local. Um dos tantos projetos sociais realizados e/ou mantidos pela FUMDHAM. Fiquei feliz, pois uma placa no local informa que, em 2007, o projeto foi premiado pelo Itaú-Unicef. Dentre outros, com destaque para inclusão pela Capoeira.

Quintal do alojamento da Pró-Arte (FUMDHAM), com paisagismo de vegetação cactácea (caatinga), além de outras mais vistas no período das chuvas.

Quarto rústico, porém confortável, destinado a visitantes em trânsito para pesquisa de qualquer natureza no Parque Nacional Serra da Capivara.

Como não consegui relaxar a ponto de dormir no ônibus, praticamente deixei as malas, tomei banho, café e fui ao encontro da Dra. Niède (como é conhecida por toda cidade). Sua história de vida, por si, confunde mito e realidade. Boa parte dela, além de estórias sobre alguns pesquisadores e personalidades locais, envolvidos em diferentes épocas na Serra da Capivara, foram contadas no livro de Solange Bastos, intitulado "O Paraíso é no Piauí: a descoberta da arqueóloga Niède Guidon". 

Saliento, portanto, que torna-se praticamente impossível asseverar neste espaço sobre todas as descobertas realizadas no Parque e, muito menos, quem é e o que representa a Dra. Niède àquela população local e para arqueologia brasileira e mundial. Vou tentar resumir isso mais à frente pela entrevista que concedeu e notas aqui e acolá na Parte III e IV do diário da expedição.

Placa incrustada na caatinga, próxima da entrada da FUMDHAM. A Universidade do Vale do São Francisco - Univasf, implementou o curso de Arqueologia na região por insistência da Prof. Dra. Niède Guidon.

 
Caminhos pela caatinga até o complexo da FUMDHAM. Presenciamos a colocação de pavimento asfáltico parcial, pela primeira vez, desde a fundação nas décadas de 1980-1990. 

A casa da Dra. Niède fica no complexo da FUMDHAM. No mesmo terreno doado pelas Forças Armadas, dentre outras construções, localiza-se o Centro Cultural Sérgio Motta e o Museu do Homem Americano. É bem provável que seja o maior complexo cultural do mundo, localizado em região de caatinga (semiárido). Abriga laboratórios para pesquisas na área de ciências naturais e humanas.

 
 Acima, parede lateral do Centro Cultural. Abaixo, no mesmo local, encontram-se diversos laboratórios de arqueologia, dentre outros, com registros líticos ("pedra lascada") e gráficos ("arte" rupestre) para análises. 

Ao transitar pelas diversas instalações, pela primeira vez me deparei com a hostilidade do clima semiárido: com calor e clima extremamente seco, meu nariz sangrava e rapidamente coagulava, não chegando a fluir secreção. Situação adversa que me acompanhou até o final da expedição. 

No Centro Cultural ocorreu algo pitoresco. Ao chegar, as enormes araras estavam completamente imóveis. Pensei: "nossa, impressionante a qualidade deste artesanato, muito bem feitas". Fui à casa da Dra. Niède e precisei voltar para resolver algo. Aproveitei e saquei a câmera para fotografar os "artesanatos". Somente nesse momento percebi que eram mesmo animais de verdade, vivos. Uma delas preparou um ataque fulminante que, por muito pouco, consegui escapar. De longe, registrei que ela não estava para brincadeira.



Ao chegar na casa da Dra. Niède, atualmente com 83 anos, provi um abraço e perguntei se estava bem. Lendária e sem papas na língua, respondeu imediatamente: "Claro que não. Como posso estar bem, sem conseguir me locomover direito? Estou velha e com problemas de saúde". Não esperava nada diferente. Já fui mais do que ciente de que a Dra. Niède, inteligente e lúcida (mais abaixo transcreverei a entrevista que fiz) preferiria, claro, todo o vigor e disposição que a caracterizou por toda vida. Antes, durante e depois da criação do Parque, ocupação de praticamente seus últimos 40 anos. 

Acima, casa e quintal da Prof. Dra. Niède Guidon. Abaixo, registro do encontro que, certamente, guardarei com carinho até o final da vida.

Durante nossa conversa, ela afirmou que esta era a primeira vez que alguém visitaria os sítios arqueológicos com intuito único e exclusivo de identificar e catalogar registros de lutas. Expliquei que serviria de base iconográfica para meus livros e/ou artigos futuros sobre o tema. Muito antes de conhecê-la pessoalmente, já havia me enviado diversos registros para análise. Alguns aloquei, após sua autorização, na exposição "Lutas: Patrimônio Cultural da Humanidade (UNESCO)". 

A presenteei com meu novo livro "Olhar Clínico nas Lutas" e conversamos bastante sobre assuntos variados, não me descuidando do objetivo principal da expedição: identificar, registrar e catalogar os registros rupestres de lutas. Ela explicou que, apesar de os primeiros sítios terem sido oficialmente registrados na década de 1970, até hoje novos sítios são encontrados, sendo um dos últimos, justamente com cena de luta: a Toca do Conflito. 

A denominação "Toca" para os sítios é regional. São abrigos sob a rocha de pouca profundidade - não são grutas, nem cavernas -, onde, ao escavarem em locais próximos para contextualizar com as pinturas, encontraram objetos com datações que variavam dependendo do sítio, de 1.000 até 100.000 anos AP (antes do presente). Niède deu pistas de onde procurar e quais eram os principais sítios com registros do que, na visão dos arqueólogos, apreenderam como sendo registros rupestres de lutas com e sem armas.

Graciosamente, Guidon assinou a meu pedido no livro de Anne-Marie em que escreveu o prefácio e contribuiu com material iconográfico.

Após nossa conversa, me convidou a conhecer o Museu do Homem Americano. Instituição com instalações de nível mundial cravado na caatinga. No Museu encontram-se alguns dos objetos encontrados em escavações no Parque, além de explicações detalhadas que procuram focar nas hipóteses e teses defendidas pelos arqueólogos envolvidos em pesquisas na região. Sugiro que leiam os explicativos abaixo, pois resumem bem o motivo de a expedição ser direcionada para o Piauí. Não só pela quantidade, mas também pela qualidade dos registros rupestres. Atenção: para ampliar, basta clicar na imagem.









Além dos registros fotográficos, fizemos um pequeno tour, registrados em material audiovisual para que as pessoas pudessem ter uma noção mais perto da realidade de como é o museu. Ademais, durante o tour, num telão passava rapidamente um resumo dos achados de lutas no Parque. Também registramos.





Ao sair do museu, existe uma loja que revende cerâmica produzida pela fábrica ceramista "Serra da Capivara", localizada na Comunidade Barreirinho. Abordaremos detalhadamente sobre a fábrica e confecção dos utensílios na Parte III dos diários da expedição. Em suma, após uns 30 minutos procurando e vasculhando em todas as prateleiras e no estoque, encontrei apenas um registro artesanal de lutas. Reprodução do grafismo rupestre encontrado no sítio arqueológico "Nilson do Boqueirão da Pedra Solta" (Circuito Serra Branca). Foi literalmente um achado! 

A vendedora explicou que raramente na fábrica se produz artefato com registro de lutas, pois quase não tem saída, rotatividade. Essa peça estava lá há mais de 1 ano... Comprei por exatos 20 reais e, duas semanas depois, aloquei junto com outra, retratando o mesmo sítio, na exposição sobre lutas realizada em Cuiabá - MT.




Acima: vista externa da loja, estante com outras peças e segurando a única com grafia de luta. Abaixo, na exposição sobre lutas, 15 dias depois em Cuiabá - MT, ao lado de outra peça encontrada (relato na Parte III da expedição) e do grafismo rupestre original que registrei no sítio arqueológico "Nilson do Boqueirão da Pedra Solta" (Circuito Serra Branca).

Para finalizar, infelizmente fui avisado que, neste dia (domingo), a equipe da FUMDHAM não poderia me acompanhar até o Parque. Somente me acompanhariam na terça. Não me fiz de rogado, fiz contatos e combinei com um guia experimentado, o Osmar, para me acompanhar na segunda-feira (19/10) ao Circuito Boqueirão da Pedra Furada (registros mais antigos). 

De cara, o Osmar foi sincero e disse que nesta parte do Parque são mais raros os registros de lutas. As principais descobertas (no sentido de quantidade e conservação das pinturas) foram no Circuito Serra Branca (registros mais "recentes"), já agendado para terça com a equipe da FUMDHAM. Mesmo assim, não queria ficar mais um dia sem adentrar no Parque e fui. Não me arrependi. Aloquei o que vi na Parte III da expedição. Abaixo, conforme citado no início desse texto, a entrevista com a Prof. Dra. Niède Guidon.

Diferente de outros pesquisadores que, após terminar suas descobertas, simplesmente vão embora dos sítios arqueológicos, a Prof. Dra. Niède Guidon transformou o Parque Nacional Serra da Capivara em seu projeto de vida. Resolveu ficar. No currículo, possui graduação em História Natural pela Universidade de São Paulo (1959), doutorado e pós-doutorado em Pré História pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne (1975). Atualmente é professor visitante da Universidade Federal de Pernambuco, conselheira de administração da Fundação Bunge, pesquisador da Fundação Museu do Homem Americano e diretora presidente da Fundação Museu do Homem Americano. Tem experiência na área de Arqueologia, com ênfase em Arqueologia Pré-Histórica, atuando principalmente nos seguintes temas: arqueologia, parque nacional serra da capivara, pinturas rupestres, povoamento da américa e pleistoceno.


Leandro Paiva (LP): Em que ano a senhora iniciou as escavações na região do Parque?

Niède Guidon (NG): Em 1973.

Nota: a partir desse trecho, meu nome estará abreviado (LP) e o da Dra. Niède (NG). Quando adicionar algum comentário à resposta dela, este virá em itálico, entre parênteses e colocarei a abreviação do meu nome no final.

LP: Quais são os vestígios mais antigos da presença humana?

NG: Temos registros datados da  Pedra Furada (área onde encontraram os vestígios mais antigos no Parque Nacional - anotação minha, Leandro Paiva/LP) de mais de 50.000 anos. Temos datação de fogueiras com mais de 100.000, confirmando atuação antrópica (pelas mãos do homem, LP).

LP: Quando chegou na década de 1970, imaginou que encontrariam tantos sítios arqueológicos em um só lugar?

NG: Não. Hoje temos mais de 900 sítios registrados e 184 preparados para visitação, com toda infraestrutura.

LP: Desde a década de 1950 vigora a tese de que a ocupação do continente americano se deu pelo Estreito de Bering por volta de 12.000 AP (antes do presente). O Estreito forneceu passagem da Ásia para as Américas, havendo, nas Américas, fluxo migratório do norte para o sul do continente. Existe a hipótese de que foi possível a passagem em função de uma grande geleira. Em outra, asseveram que foi possível pela navegação de cabotagem, ou seja, contornando a parte costeira com pequenas embarcações. A senhora apresenta uma tese bem diferente sobre a ocupação das Américas, baseada em seus achados no Parque Nacional Serra da Capivara e em descobertas realizadas em outros locais do continente por outros pesquisadores. Poderia explicar melhor?

NG: Bom, essa exclusividade do povoamento das Américas pelo Estreito de Bering está completamente derrubado. Os poucos cientistas que ainda insistem com essa hipótese são norte-americanos. Na Europa, não se aceita mais. Tem um estudo publicado na Nature que mostra por meio de análises genéticas (DNA) com tribos indígenas americanas, que foram vários grupos étnicos diferentes que migraram para cá. Tem hoje resultados de datações no Chile de 25 mil anos AP e no Uruguai de 33 mil anos AP. Aqui na Pedra Furada, por exemplo, em um sítio próximo (localizado na planície), Eric Böeda, chefe da missão francesa, está escavando (ainda está na metade) e já se tem datações de mais de 25 mil anos AP. Temos arte rupestre datada de 28 mil anos AP. Um sítio no calcário no qual a calcita que recobria a pintura foi datada. Sugere-se que a pintura seja até mais antiga.

LP: Essas pinturas eram de quais tradições? Nordeste, Agreste ou Itacoatiara?

NG: Essa classificação em tradições, foram baseadas em minha chegada, primeira proposta ainda na década de 1970. Com a quantidade de pinturas e novos sítios, esse processo está passando por novas classificações. Agora quem está à frente disso é a Anne-Marie (pesquisadora especializada em "arte" rupestre e autora do livro "Imagens da Pré-História", LP). Ela adquiriu um aparelho para realizar scanner à laser em 3D e está fazendo todo um levantamento nesse momento. Com esse aparelho ela verifica as diferentes camadas, as pinturas sobrepostas e daí vai sair uma classificação nova.

LP: Voltando à sua tese sobre a ocupação das Américas, poderia continuar? Citando especificamente a questão da fogueira com datação de mais de 100.000 anos, a senhora acredita que sua origem antrópica seja africana, mas aqui no Brasil?

NG: Sim, porque a África passou por uma seca enorme que gerou os desertos e as populações se lançaram ao mar, com barcos de madeira rudimentares. O Homo Erectus chegou ao Pacífico. O Homo Sapiens também poderia chegar, né?! Aqui no Brasil existem espécies de macacos na Amazônia, encontrados apenas na África. Os cientistas acreditam que vieram por meio de troncos de madeira, por acaso, há milhões de anos. O Atlântico também estava com 120 metros abaixo do nível do mar. Comparando com a atualidade, existiam muitas ilhas, facilitando o deslocamento, gradativamente. Os ventos e as correntes marítimas também trazem da áfrica para cá. Inclusive aqui no nordeste do Brasil, nesses últimos anos, já chegaram duas pessoas, imigrantes ilegais, em que o barco afundou e eles foram trazidos pelas correntes para cá. Têm os índios daqui (da região e cidades próximas ao Parque, LP), inclusive os descendentes você ainda encontra por aí. Em 1975 eu encontrei esses índios que ainda viviam nessa região, na Serra das Confusões. Não tinham nada de asiáticos. Pele muito escura (mas não eram negros) e cabelos muito negros. 

LP: Tendo por base essa resposta, suscito outra questão: a senhora tem informações dos Guerreiros Olmecas da Antiguidade (1500-400 a.C.), localizados no México? Tinham supostas características negroides (reveladas em muitas obras de arte descobertas)... 

NG: Sim, inclusive li um artigo que em alguns sítios do México encontraram rochas africanas. Possivelmente haveria um comércio, uma troca. Outro dia também vi um artigo que descobriram no México um esqueleto de uma jovem, que eles então analisaram o DNA e tudo, fizeram todo o estudo antropológico. As características do esqueleto dela são típicas de africanos, mas o DNA é asiático. Então eles dizem que deve ser miscigenação no México de grupos de descendentes de africanos vindos do sul, com descendentes de asiáticos vindos no norte. Nossos esqueletos encontrados aqui no Parque, nos estudos feitos pelos antropólogos, mostram que eles têm características próximas aos africanos.

O Lutador Olmeca. Escultura em basalto de 66 cm descoberta por acaso em 1933 por um agricultor em Arroyo Sonso, no Estado mexicano de Veracruz. Atualmente exposta no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México. A arqueóloga Mary Ellen Miller descreveu a escultura como "um dos mais poderosos retratos tridimensionais do antigo Novo Mundo". Em 1996, o governo do México emitiu uma moeda de prata, cunhada com a imagem dessa escultura.


LP: No Parque existem sítios com pinturas rupestres de lutas mais recentes, caso do Circuito Serra Branca e mais antigos, como o Boqueirão da Pedra Furada. Qual é a cena mais antiga?

NG: Muitos deles nós não temos datações específicas para pinturas. Temos para os objetos encontrados nas escavações realizadas no mesmo local, em que contextualizamos com algumas pinturas (nesses casos, as datações por Carbono-14 do material, mostraram variação de 2.000-5.000 anos AP no Serra Branca e acima de 10.000 AP, frequentemente acima de 15.000 AP na Pedra Furada, LP). Na Pedra Furada, por exemplo, conseguimos datar em 27.000 AP um bloco de pedra com pinturas que se desprendeu da parede.

LP: De modo geral, contextualizando, baseando-se pelos líticos encontrados ("pedra lascada"), as datações já realizadas com os blocos que se desprenderam, além das datações de fogueiras e cerâmicas, podemos afirmar que são os registros de lutas mais antigos do Continente Americano?

NG: Hoje sim, mas não sei amanhã. 

LP: É sabido que não se pode interpretar ao pé da letra as grafias rupestres. A senhora acredita que as cenas de lutas seriam relacionadas a algo súbito, como uma briga ou estão mais para atividades treinadas?

R:  Acho muito pouco provável. Trabalhei com etnólogos e tribos indígenas e fazem lutas como cerimoniais, como é até hoje, por exemplo. O problema da arte rupestre é que você não tem um código, isto é, o que aquilo ali queria dizer para eles. Vou contar uma história: com as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, escolheram a Serra da Capivara para abrir as festividades e o Presidente Fernando Henrique veio até aqui. As comemorações iniciaram aqui. Então, convidei uma tribo indígena para vir participar, achei que os índios deveriam estar presentes. Foi uma tribo que convidei do Mato Grosso. Aliás, Mato Grosso não, não me lembro mais... De todo caso, vieram e se apresentaram no cerimonial. Após passar a cerimônia, Fernando Henrique foi embora e eu os levei para virem as pinturas. Quando chegaram na Pedra Furada e viram aquelas representações de seres humanos uns aos lados dos outros, eles se colocaram todos na mesma posição e começaram a dançar e cantar. Alguma coisa eles viram, entende?! Eles viram aquela cena que a gente diz "cena cerimonial" e começaram a fazer isso.

Abertura das comemorações pelos 500 anos do "Descobrimento do Brasil" no Boqueirão da Pedra Furada. Cerimônia inicial com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Foto: FUMDHAM.

Momento mais intenso da Luta Corporal Indígena denominada de "Huka-Huka". Combate realizado dentre as atividades do Kwarup - ritual de homenagem aos grandes guerreiros mortos, dentre outros ilustres já falecidos. Localizado no Parque Nacional Indígena do Xingu. As origens do Kwarup remontam ao ritual ancestral que tinha como principal objetivo trazer os mortos à vida. Foto: Fernando Fragoso Vaz de Carvalho. 


Referências

1) Pessis, Anne-Marie. Imagens da Pré-História. Piauí: Editora FUMDHAM, 2003.

2) Bastos, Solange. O Paraíso é no Piauí: a descoberta da arqueóloga Niède Guidon. Editora Família Bastos, 2010.

Aguardem informações sobre a Parte III: Lutas nos sítios arqueológicos do Circuito Boqueirão da Pedra Furada 

*Para saber mais sobre as relações entre o Homem ancestral e os Lutadores atuais, sugerimos que adquira o livro "Olhar Clínico nas Lutas", direto pelo site: www.olharclinicolivro.com.br



Leandro Paiva







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